Educação e pandemia: grandes desafios


A pandemia que ainda assola o mundo transformou a vida das bilhões de pessoas no que tange aos modos, hábitos e comportamentos em todas as esferas de complexidade humana. Seja no trabalho, na convivência com o vizinho ou mesmo no cumprimento das pessoas, a preocupação, mesmo que minimizada pela chegada da vacina, ainda é uma constante, tendo em vista a incomensurável e dramática perdas das famílias abatidas por esse vírus.   


O futuro da humanidade continua uma incógnita. Todavia, há a certeza de que a pandemia antecipou mecanismos, instrumentos e formas variadas da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem, quebrando, talvez barreiras que somente com o passar do tempo iriam ser transpostas.   


O novo normal nos impõe uma nova maneira de enfrentar a realidade na medida em que temos a obrigação moral de progredir mesmo diante das vicissitudes e das intermitências da vida.   


No momento em que se discutem mais acaloradamente os papeis e funções do Estado enquanto fenômeno político-administrativo e as suas respectivas respostas às demandas das inúmeras camadas da sociedade, a pandemia determinou o maior desafio contemporâneo das gestões públicas, o de conciliar essa nova realidade à prestação de serviços e políticas públicas, principalmente nas áreas da saúde, no que tange a imunização da população e da educação, enquanto motor de desenvolvimento social e econômico da sociedade.   


Nunca estivemos tão dependentes do conhecimento e da tecnologia. O processo ensino-aprendizagem incorporou as novas formas de fazer educação e de construção do conhecimento. O professor, para além de todas as habilidades e competências que o fazem mestre, passou à condição de um aprendiz pensante de sua própria atuação.   


“Ensinar inexiste sem apreender e vice-versa”. Com essa atitude de autonomia, o grande educador-pensador Paulo Freire estabeleceu os saberes fundamentais da prática educacional-crítica, cujos conteúdos obrigatórios são atualíssimos. Ensinar exige uma gama variável de certos conhecimentos que são imodificáveis mesmo com o advento das tecnologias na educação neste momento de pandemia, tais como a liberdade, autoridade, humildade, a reflexão crítica, pesquisa, comprometimento, o saber escutar, rigorosidade metódica e querer bem aos educandos.   


A intermediação de aparelhos e telas virtuais não retirou do professor aquilo que ele tem de importante, de essencial, de vital pra construção do saber que é a sua própria linguagem corporificada pela sua presença, principalmente a física.   


Nesse contexto, as mídias sociais, esses espaços de vida virtual que abarcam o mundo inteiro, se relacionam com o professor na medida em que para o ensino, não basta a transmissão de informações ou conhecimento, mas a criação, o compartilhamento, a reutilização de informações e saberes em rede e de forma colaborativa.   


Pois bem. Nada mais óbvio afirmar que vivemos um momento de crise, de desorientação em relação ao prosseguir na vida e no futuro... mas também é um momento de reflexão sobre o atual estado das coisas. Lembrando o sociólogo polonês Bauman, “a crise, na medida em que a noção se refere à invalidação dos jeitos e maneiras costumeiros e à resultante incerteza sobre como prosseguir, é o estado natural da sociedade humana”.  Ou seja, a crise é um acompanhamento universal da experiência humana.   


Partindo desse pressuposto, creio que as mudanças geradas por essa crise que vivenciamos ocorrem em três dimensões:   


A dependência tecnológica, no que tange à internet, os aparelhos, aplicativos e plataformas. Video-aulas, aulas síncronas, podcasts, mensagens de áudio, fotos e slides são exemplos de estratégias que foram aprendidas e adotadas pelos professores. A ausência de protocolos, convenções e medidas de acompanhamento resultou em uma diversidade de práticas pedagógicas. As soluções foram construídas a partir de escolhas discricionárias dos professores.   


A readequação da ambiência de ensino. A sala de casa, a cozinha, o quarto e a varanda se tornaram a sala de aula e a lousa se tornou a tela virtual. A reorganização do espaço físico é aspecto que entrou na vida dos professores de maneira constante, para propiciar uma conexão com o aluno.     


E por último, a reinterpretação das abordagens pedagógicas no que se refere ao planejamento, rotina, aplicações e intervenções. Todas as estratégias utilizadas forma apropriadas de maneira reflexiva cotidianamente pelo professor, sempre na busca de métodos que gerassem qualidade no processo de ensino. E exemplificando essas dimensões, trago dados de levantamento (Volta às aulas 2021) realizado pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), em parceria com o Unicef e o Itaú Social, realizado em inicio de 2021, as atividades pedagógicas mais utilizadas pelas redes de ensino  consultadas, foram a utilização de material impresso (95,3%), o envio de orientações através do whatsapp (92,9%), vídeo aula gravadas (61,3%) e orientações online (54%)   


Tudo isso, o professor, mais do que nunca, teve que absorver e incorporar para uma construção do ensino durante a pandemia, driblando as dificuldades, apreendendo novos saberes e principalmente atuando em cooperação com a tecnologia e com a rede educacional.   


O relacionamento do professor com a família também mudou. Tornaram-se imprescindíveis a mobilização e a conscientização da família do aluno na rotina e na percepção de que a aula, assistida no quarto ou na sala ou em qualquer canto improvisado, é um momento sagrado. Para alunos sem acesso à internet, caso comum da nossa realidade da rede pública, a instituição escolar e professores facilitam o acesso à educação com as atividade impressas, que são levadas até casa do aluno e avaliadas com posterior feedback.    


Creio que a política educacional neste período se resume em uma única frase: “aproximar o máximo sem estar perto”. E aqui temos também o aspecto emocional, que envolve habilidades diversas.   


Essas dimensões mencionadas devem ser observadas em duas perspectivas. Primeiro na perspectiva do professor e do processo de ensino aprendizagem. Segundo na perspectiva do Poder Público, na função do Estado, e também no papel das instituições.   


No atual contexto político global e nacional, em que o neoliberalismo influencia determinantemente os novos modos de produção do capitalismo financeiro, da cultura, da economia e da abstenção do comportamento do Estado, mais do que nunca, fica translúcida a emergência e a necessidade da intervenção do poder publico-político-estatal na sociedade para a concretização de direitos fundamentais como saúde, assistência social e, principalmente, educação.   


O Estado social, enquanto Estado que institucionaliza políticas públicas como instrumento de redução das desigualdades sociais, bem como mecanismos de diminuição dos efeitos do capital sobre a exploração do trabalho em geral, tornou-se, longe de qualquer ideologia, a principal instituição para levar a cabo as promessas da modernidade, no redesenho de uma utopia social.   


E aqui entra o papel da importância do município, através da política educacional nestes tempos de pandemia. Formações voltadas para o bom uso da tecnologia da informação e do conhecimento, como investimento no capital humano, a garantia de merenda saudável para alunos, de acesso à internet e aportes financeiros para aquisição de materiais são apenas alguns exemplos da relevância do poder na concretização do direito à educação.   


A governança pública, entendida como um conjunto de mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de serviços públicos de interesse da sociedade, deve trilhar um caminho muito mais curto e rápido quando se trata da Educação pública. Todos os princípios que devem nortear essa política precisam ser implementados com a urgência que exigem os problemas educacionais gerados por este momento. Os atores públicos e/ou privados que trabalham coletivamente na educação precisam conformar a sua atuação com a capacidade de resposta, a integridade, a confiabilidade, prestação de contas e responsabilidade (accoutability), e transparência.   


No âmbito das instituições de ensino superior, a dimensão institucional, integrada de uma governança coorporativa, para o retorno das atividades didáticas em períodos de pandemia e de distanciamento físico entre pessoas envolve múltiplas decisões. Para fugir do “faz de conta”, em que existe a suposição de que o professor transmite o conteúdo e o aluno consequentemente aprende, e que esse processo é realizado facilmente através da tecnologia, precisamos entender que os alunos necessitam de acesso à internet, o que possibilita a geração maior autonomia e sofisticação em habilidades acadêmicas, como leitura e escrita, bem como no uso de recursos digitais. Garantir que os estudantes tenham acesso à internet e repertório compatível com o ensino on-line é um desafio que cabe às IES superarem. Em relação aos professores, além de as instituições garantirem condições de acesso à Internet, outro aspecto envolve capacitação para lidar com plataformas on-line e, o que é ainda mais complexo, capacitação para planejar e executar atividades de ensino em ambiente virtual e acompanhar e avaliar a aprendizagem dos estudantes.   


Por fim, a esperança como uma crença positiva de que as coisas vão melhorar no futuro, o que move o ser humano para viver e conviver, ainda é o combustível que nos liga as atividades essenciais como a educação. Educar envolve a crença no futuro, envolve acreditar no humano e no humanismo, envolve criar o mundo. E, para finalizar minha exposição, pergunto: como vamos criar o mundo que sonhamos, transpondo as barreiras e enfrentando os desafios? 


Robinho Almeida

Doutorando em Ciência Política (ISCSP), Mestre em Direito (UNISC). Secretário da Educação de Acopiara.



1 Comentários

  1. Robinho Almeida altamente inteligente e competente no q fa nao e atoa q e o melhor secretario de Educacao em Todas as gestoes q passaram no nosso municipio

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